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Por que os títulos públicos podem gerar prejuízo?

Embora os títulos públicos sejam os investimentos brasileiros mais seguros e previsíveis, uma vez que são garantidos governo, há algumas situações em que podem gerar prejuízo. E isso acontece porque, ironicamente, a renda fixa também varia. Mas por que isso acontece?

Da mesma forma que as pessoas físicas negociam os títulos públicos por meio do Tesouro Direto, as instituições financeiras realizam essa negociação no chamado “Mercado Secundário”. Os preços e taxas do Tesouro Direto são baseadas nas taxas negociadas nesse mercado secundário e são atualizados três vezes por dia.

Mas se eu já comprei um título que tinha uma taxa predeterminada, essa movimentação não altera a rentabilidade do meu investimento, certo? Se esse investimento for mantido até o vencimento, você receberá exatamente o que foi contratado. No entanto, se precisar resgatar antes, terá que vender de acordo com as condições oferecidas pelo mercado naquele momento, que poderão ser melhores ou piores do que a contratada originalmente.

Homem puxando os bolsos vazios para fora da bermuda

Como funciona o Mercado Secundário

Como dito acima, da mesma forma que as pessoas físicas podem negociar títulos públicos por meio do Tesouro Direto, os investidores institucionais também podem negociá-los no Mercado Secundário e isso altera as condições oferecidas para cada título. Mas por que isso ocorre?

O retorno exigido pelos investidores institucionais para emprestar dinheiro ao governo varia ao longo do tempo, dependendo de diversos fatores. Entre eles, podemos mencionar a expectativa de inflação futura e a confiança na capacidade do governo de cumprir seus compromissos. Por exemplo, se um título público prefixado com vencimento em 5 anos oferece rendimento anual de 6% e as projeções de inflação indicam que ao longo dos próximos anos ela deverá ser, em média, 7% ao ano, ninguém vai querer comprar esse título.

Mesmo que o rendimento do título empatasse com a inflação, ninguém ia querer ficar no zero a zero. Os investidores sempre cobram um percentual que cubra a desvalorização provocada pela inflação e garanta algum rendimento extra. Por isso, quanto maior a confiança na capacidade do governo de manter a inflação sob controle e honrar seus compromissos, menor o retorno exigido pelos investidores para adquirir títulos públicos.

Mas essa confiança pode ser afetada por diversas notícias. Por exemplo, a divulgação de dados econômicos (desemprego, inflação, produção industrial…), sinalizações políticas (governo que tende a gastar mais do que arrecada, insegurança quanto à política econômica adotada etc.). Outro fator que pesa nas decisões é o aumento na taxa de juros de países desenvolvidos, especialmente nos Estados Unidos. Afinal, os investidores podem achar que vale mais a pena receber 3% em dólar que 7% em reais, já que o dólar é a moeda da maior economia do mundo e transmite mais confiança ao investidor.

A marcação na curva e a marcação a mercado

Na hora de saber quanto vale um determinado título, existem duas formas possíveis de realizar esse cálculo: a marcação na curva e a marcação a mercado. Quanto mais próximo o vencimento do título, mais as duas marcações tendem a se aproximar.

A primeira forma é simplesmente pegar o valor aplicado e multiplicar a taxa de juros pelo tempo de aplicação. Por exemplo, se você comprou um título com vencimento em 2 anos por R$ 500 com taxa de 10% ao ano, ao final de um ano o valor bruto dele seria R$ 550. Essa é a chamada marcação na curva.

No caso da marcação a mercado, o preço do título varia conforme as negociações. No exemplo acima, aplicando a fórmula de juros compostos, (M=C *(1+i)t/100), o valor do título no vencimento seria R$ 605. Mas digamos que, ao longo do primeiro ano, tenha havido alguma situação que diminuiu fortemente a confiança dos investidores no emissor do título. Isso fez com que eles passagem a exigir retornos maiores e o título passasse a ser negociado a uma taxa de juros de 25% ao ano.

No vencimento, aquele título valerá os mesmos R$ 605. Portanto, para render uma taxa maior, o preço de venda do título terá que diminuir. Nesse caso, um ano depois, o título valia R$ 484, pois dali a um ano, após render 25%, ele valeria R$ 605. Se o investidor vender a essas condições, terá um prejuízo de 3,2% em um ano, em vez de lucro de 10%.

É claro que não são comuns variações dessa magnitude na taxa de juros em tão pouco tempo. No entanto, quanto mais longo o prazo de vencimento maior é a chance de haver alterações e mais sensíveis são os preços à taxa de juros. Se no exemplo acima o título fosse negociado a uma taxa de 10% ao ano com vencimento em 10 anos, seu valor final seria R$ 1.296,87. Se após um ano a taxa negociada tivesse subido para 12%, o valor do título teria caído para R$ 467,66. Caso fosse vendido a preço de mercado, traria um prejuízo de 6,46%.

É possível obter lucro também com o resgate antecipado?

Sim! Também existe essa possibilidade. Se em vez de as taxas aumentarem elas tivessem diminuído, o retorno estaria acima do preço na marcação na curva. Se o título do exemplo passasse a ser negociado a juros de 9% ao ano, o preço de venda seria 597,11, um lucro de 19,42% e não mais 10%, conforme contratado inicialmente. Essa é uma outra forma de pensar os investimentos em títulos públicos, considerar as expectativas de variação nos preços e taxas para obter lucros mais rápidos. Lembrando que sempre é possível manter o título até o vencimento para garantir o retorno contratado, caso as variações na marcação a mercado não sejam favoráveis.

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